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Entrevista com João Paulo Miranda Maria

Categoria: Cultura Educação Entrevistas

João Paulo Miranda Maria, entrevistado deste mês, retornou recentemente de Paris, onde permaneceu no primeiro semestre de 2017 participando de um programa de residência artística, sendo um dos seis selecionados entre mais de mil jovens cineastas do mundo todo. João Paulo leciona no Colégio Koelle as optativas de cinema e fotografia.

KK: Como foi a sua experiência de viver em Paris durante quatro meses e meio participando de uma residência artística?

JP: Realmente foi uma experiência única, pois trata-se da Residência Cinéfondation, programa apoiado pelo Festival de Cannes. Neste programa são apenas escolhidos 6 diretores estrangeiros por semestre para desenvolver o roteiro de seus primeiros longas-metragens. Ser selecionado para esta Residência é algo muito importante, onde outros grandes diretores do cinema atual já estiveram presentes, escrevendo seus primeiros filmes. Portanto, conviver neste ambiente é algo inspirador, como uma forma de promover jovens talentos para uma futura geração.

KK: O que acrescentou em sua carreira essa imersão no ambiente cinematográfico em um país que tem pelo cinema uma grande devoção?

JP: Não apenas pelo cinema, mas toda arte é muito respeitada e estimulada na França, contando com apoio e reconhecimento. Convivendo estes meses em Paris, tive a oportunidade de ser apresentado aos grandes institutos cinematográficos e ser altamente valorizado. Lá há um grande costume de ir aos Museus e Cinemas, é como uma rotina. Em Paris é muito fácil encontrar cinéfilos em diferentes lugares; todos gostam muito de assistir e discutir cinema, por isso fico muito admirado pelo interesse deles no meu trabalho e como eu poderia contribuir para agregar algo novo. Para mim, foi também uma grande oportunidade de conhecer mais sua história e ter contato profundo com a arte através dos grandes pesquisadores franceses.

KK: Fale do seu curta-metragem “A moça que dançou com o diabo”, premiado em Cannes, e que agora é finalista para o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

JP: Este filme ganhou grande repercussão em vários festivais internacionais e nacionais, conquistando diversos prêmios. Neste caminho, recebemos a notificação da Academia Brasileira de Cinema sobre a posição de finalista ao Grande Prêmio. Este evento é bastante similar ao da Academia Norte-Americana de Cinema, que uma vez por ano organiza uma cerimônia para reconhecer os melhores profissionais na área cinematográfica nacional. Estar entre os listados já é uma grande honra para mim.

KK: Quando será rodado o seu primeiro longa-metragem e com que apoio?

JP: Para o meu primeiro longa-metragem já conto com a parceria de uma produtora francesa e outra brasileira. Ambas são grandes empresas do mercado, acostumadas a produzir grandes filmes. Portanto, estamos bastante otimistas para viabilizar muito em breve este filme. Nosso cronograma prevê a filmagem para o meio do ano que vem no Brasil, sendo posteriormente finalizado em Paris, para assim estrear no ano de 2019. Realizar um longa-metragem é um trabalho enorme, envolvendo muitas pessoas, tempo e investimento.

KK: Fale um pouco sobre ele.

JP: O filme está no momento com o título “Casa de Antiguidades”, e conta a história de um homem do interior de Goiás, que vem trabalhar num grande laticínio numa colônia austríaca do sul do país. Lá, muito afastado de seus hábitos, seu único envolvimento é com o gado da fábrica. Aos poucos, através de uma misteriosa casa abandonada, o personagem retorna ao seu passado primitivo, até se transformar no final do filme num verdadeiro animal.

KK: Como você vê o cinema francês nos dias de hoje comparando com os anos áureos da Nouvelle Vague, na década de 1960?

JP: Na época da Nouvelle Vague havia uma grande experimentação cinematográfica, o que vejo muito raramente entre os diretores franceses da atualidade. Porém, o cinema francês está cada vez mais interessado nos “olhares” estrangeiros, procurando trazer esse frescor para somar com as produções atuais.

KK: E sobre seu recente filme “Meninas Formicida”, selecionado para participar do Festival de Veneza deste ano, que será em setembro próximo?

JP: “Meninas formicida” é um curta-metragem que filmei em Rio Claro no final do ano passado e editei em Paris, durante o primeiro semestre deste ano. O filme é uma coprodução internacional, com apoio do Governo da França e da TV francesa ARTE. O filme conta a história de uma adolescente que passa seus dias aplicando pesticidas numa área reflorestada de eucaliptos. Porém, seu principal conflito é algo mais profundo, tendo que decidir sobre o seu futuro. É um trabalho que questiona alguns dilemas sociais e que terá agora a estreia mundial no prestigiado Festival de Veneza, o mais antigo festival de cinema do mundo. Lá meus grandes ídolos da vanguarda neorrealista italiana apresentaram suas obras primas! Para mim é uma honra indescritível, sendo outro grande passo para o reconhecimento internacional de meu trabalho.

Por Jaime Leitão

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